Prevalência de Polimorfismos Farmacogenéticos na População Brasileira

 A distribuição das variantes genéticas relacionadas ao metabolismo de medicamentos na população brasileira reflete sua diversidade genética única, formada pela miscigenação entre indígenas, europeus e africanos. Estudos recentes (como o projeto DNA do Brasil e consórcios internacionais) revelam dados importantes:

Prevalência de Fenótipos Metabólicos Chave

  • CYP2D6 (Metabolismo de ~25% dos fármacos):
    Metabolizadores Lentos (PM): 5–7%
    Frequência maior que em asiáticos (1–2%), mas menor que em europeus (7–10%)
    Metabolizadores Ultrarrápidos (UM): 3–5%
    Predominante em descendentes do Norte da África/Oriente Médio
  • CYP2C19 (Clopidogrel, antidepressivos):
    Metabolizadores Lentos (PM): 12–18%
    Frequência elevada devido à contribuição indígena e asiática
    Metabolizadores Ultrarrápidos (UM): 15–20%
    Associado ao alelo *17* comum em europeus
  • CYP2C9 (AINEs, varfarina):
    Alelos *2 e *3 (função reduzida): 15–22%
    Maior risco de sangramento com varfarina e toxicidade com AINEs
  • TPMT (Azatioprina/mercaptopurina):
    Portadores de alelos de baixa atividade: 3–5%
    Risco de supressão medular fatal com doses padrão
  • VKORC1 (Sensibilidade à varfarina):
    Genótipo -1639AA (alta sensibilidade): 15–25%
    Exigem doses 50–70% menores

Medicamentos Comuns

  • Clopidogrel: 1 em cada 6 brasileiros (16%) tem risco aumentado de infarto/AVC por metabolismo inadequado.
  • Varfarina: 30% da população requer ajustes significativos de dose devido a CYP2C9/VKORC1.
  • Codeína: 5–7% não obtêm alívio da dor (PM); 3–5% têm risco de depressão respiratória (UM).
  • Estatina: 15–20% com variantes SLCO1B1 têm maior risco de miopatia com sinvastatina.

Panorama Atual

  • Testagem: Apenas 5% dos hospitais brasileiros realizam rotina de farmacogenética (dados de 2023).
  • Custos: O preço médio de testes genéticos caiu 60% na última década.
  • Impacto Econômico: Estima-se que a implementação generalizada poderia reduzir em 30% as internações por reações adversas.

A singular diversidade genética no Brasil exige estratégias personalizadas. Com 20–30% da população portadora de variantes clinicamente relevantes, a incorporação da farmacogenética representa não apenas um avanço científico, mas também redução de custos na Saúde e melhoria na segurança do paciente.

Dr. Bruno Rocha realiza estudo farmacogenético e outras avaliações de Medicina de Precisão em consulta médica. Este texto é informativo e não constitui recomendação médica.

Estrutura molecular do Warfarin no fígado

Referências

  1. Suarez-Kurtz et al. (2017) – Pharmacogenomic Diversity in Brazilians
  2. Projeto DNA do Brasil (2021) – Dados preliminares de 5.000 genomas
  3. Consórcio Farmacogenômico Brasileiro (2023)